Apresentação

Revista Linha Mestra – Ano XI. No. 31 (jan.abr.2017). ISSN: 1980-9026

O fundamento desapareceu…

Amanda Mauricio Pereira Leite
Renata Ferreira da Silva
Marcus Novaes
Maria dos Remédios de Brito
Tocantins, Belém, Campinas, 10 de dezembro de 2016

Atravessa a escrita dos ensaios que percorrem a linha da Linha Mestra um personagem que se chama “Mulher”, visto como estilo. O que teria a Mulher para dizer sobre a verdade de uma escrita? A Mulher amaria a verdade? Não seria a verdade uma Mulher? A Mulher não colocaria em suspensão qualquer tipo de seriedade dogmática? Diz o personagem: “o pensamento ridiculamente sério jamais entende a Mulher em sua potência infinita de distribuição e variação”. Os dogmáticos acreditam que podem dizer o que “é”, que podem revelar o real, o ser em si… No entanto, tudo isso parecer ser um hábito que escapa sempre da crítica cautelosa.

Sem véus… Não se trata de alcançar um desnudamento, pois não há… velocidades, movimentos… Não há ocultação, não há por trás “de”… As nuvens passam, elas cortam os rostos, os ares, elas estão no meio … Mulher!!… Estilo!! …Constelações de outras dobras… A ficção não “é” … Os processos ficcionais não colocam em jogo a aparência e a realidade, pois o que seria o real? Quem deseja buscar esse fundo? A Mulher é arredia a operações ingênuas ou a credulidades dogmáticas… Um nada essencializado, multiplicidades!!

Sob a pele passa a superfície do ser superficial da Mulher que não veste qualquer tipo de unidade e invoca a catástrofe dos binarismos ou oposições, do mesmo modo que tende a arrastar a identidade para o seu aniquilamento.

Os textos põem uma matriz de pensamento movente marcados por gestos vitais. O personagem Mulher funciona como um estilo que deseja a ruína do fundamento… Assim, os escritos aderem a uma sagaz alusão ao jogo de sedução e cosméticas das aparências, como expressão de uma salutar afirmação alegre da ausência do que “é”. Nesse sentido, a Mulher é profunda, o estilo é profundo, na medida em que não exercita nenhum fundo de verdade e nem gostaria de chegar…O estilo Mulher exercita o humor, a zombaria da falta de jeito dos dogmáticos…

Os ensaios perpassam por um segredo, não porque tenham efetivamente um algo a esconder, mas porque passa um ausente, um hiato. Estimula um pensamento em fragmentos, em dobras e demole a crença em uma totalidade…Os textos não têm para-raios e nem tetos…

A revista Linha Mestra promove o número para 2017 reafirmando a sua potência inventiva, transversal e ante fundante. Multiplicando as linguagens e fazendo processos criativos proliferarem o imagético para além das formas canônicas fincadas em verdades absolutas e certezas indubitáveis.

Esta produção foi organizada por duas Universidades Federais Brasileiras, dos estados do Tocantins e do Pará e, pela Universidade Estadual de Campinas, á convite dos editores da Revista Linha Mestra. Menos interessados na seriedade, importância e peso de vidas escritas, este dossiê deseja afirmar a vida, o movimento e a fabulação criando um corpo-dossiê-plural com escritas de vida que desejem o que está por vir…

É assim, exatamente assim, sentindo mais o desejo de escrever do que uma vontade de verdade que te convidamos para conhecer esta produção. Pode ter certeza de que forjamos todos os textos recebidos numa pluralidade heterogênea a fim de tornar a vida presente.

Os textos que percorrem as linhas escriturais afrontam territórios e situações indômitas, pois parecem radicalizar qualquer projeto de real e desconfiam daqueles que se dizem possuidores de um caminho privilegiado do que seja o sujeito da verdade. Sujeito, subjetividade moderna não podem mais ser exemplos soberbos ou noções arquetípicas de empreendimentos do conhecimento ou mesmo o traço predominante do que seja pensar.

Convidamos o leitor/leitora a entrar nesse campo platô e fazer da leitura uma aventura de criação; e se entrar na chuva com guarda-chuvas protetores, deve saber que eles podem a qualquer momento ser quebrados e a proteção ser desfeita, mas nem por isso a aventura pode acabar…vamos entrar?

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